A associação com o mar e seus elementos – território feminino por excelência – é parte dos recursos utilizados pelos poetas em todos os tempos.
No caso da poesia, então a ligação se faz mais acentuada.
É o que acontece no pequeno volume de poemas de Leila Brito intitulado “Mulher Sereia”.
Enriquecidas pela participação gráfico-visual de Floricene Rezende e capa de Filipe Araújo, as 70 páginas do livro trazem poemas curtos e bem trabalhados pela autora, nas 3 partes em que se divide a obra: a Mulher, a Sereia e o Mar.
Na 1ª seção, ocorre um forte subjetivismo lírico em quase todas as peças. Destaco como mais bem realizados: “Correntes”, “Enredo”, “Raiz” e escolho uma estrofe de “Eleanora”:
“Seu olhar
metálico
estático
lembra a aridez de desertos
ausentes de miragens.” (p. 25)
“Euclidiano”, “História”, “Gemínus” são poemas da 2ª parte da qual assinalo a primeira estrofe de “Fado”:
“Não sei se encanto
ou a voz de um canto
ou o vento ventando
noite e silêncio.” (p. 42)
Leila Brito reserva para o final os poemas com melhor estrutura de linguagem e realização, quando reduz parte do componente subjetivista e surgem em cores realistas as descrições da natureza e do seu intimismo, o que proporciona ao leitor uma poesia mais sugestiva pelos recursos qualitativos empregados: o aproveitamento de uma plasticidade dosada pela criação de imagens mais secas, e no entanto igualmente poéticas. Vamos encontrar aí “Amanhecer”, “Litorâneo”, “Borboleta”, “Belo Horizonte”, “Vila Velha” e “Barra do Riacho”.
A autora nos proporciona uma boa surpresa para a contracapa do livro, onde reproduz um poema visual habilidosamente construído com uma mistura de palavras de línguas diferentes.
De todos, opto, para transcrição integral, pelo sintético e significativo “Anoitecer”:
“Cai
A
Noite
Em
Vertical
estirada no ar a claridade parece se entregar.” (p. 57)
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