Aula 2

O CÓDIGO LITERÁRIO

Poesia

A poesia é a arte que se manifesta pela palavra, como a música é a arte que se manisfesta pelos sons e a pintura pelas cores e linhas.
PFEIFFER JOHANNES

Como se vê, a palavra é a matéria-prima da poesia, e a arte do poeta está justamente em saber lidar com ela, elegendo, dentre as inúmeras que o léxico lhe oferece, aquelas que valham por si mesmas, em termos de situarem, de maneira original, as particulares e especialíssimas circunstâncias que tocam o espírito humano. Daí que a preocupação do leitor deva ser, sobretudo, descobrir nas palavras todos os significados e sugestões que elas possam oferecer, uma vez que é justamente neste aspecto que reside o caráter grandioso da poesia: oferecer num mínimo de termos e expressões o máximo de expressividade e significados, porque o poeta recorre “ao emprego de artifícios tais como a alusão ou a conotação múltipla, deixando ao cuidado do leitor captar o pleno significado; e é também com essa finalidade que a poesia faz o som ecoar o sentido”.


Motivo da Rosa
Motivo da Rosa

Não se aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando em mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

CECÍLIA MEIRELES


À primeira vista, os versos parecem referir-se a uma realidade conhecida: o desfolhar de uma rosa que vai, aos poucos, perdendo a beleza. Entretanto, se nos detivermos na análise, vamo-nos aprofundando no poema para resgatar o seu sentido maior. E aí, então, vemos a magnitude de sua expressão, quando nos damos conta de uma realidade que nos coloca diante do sempre preocupante passar do tempo.

O poeta enfrenta essa terrível verdade, e do desassombro com que o faz extrai-se uma lição preciosa: o rejuvenescer constante do espírito, forma singular que se contrapõe ao envelhecimento físico. Só assim é possível viver realmente a vida em toda a sua extensão, ou seja, é a fórmula com a qual se consegue deixar aroma até nos espinhos. Porque, enquanto o tempo passa, a pessoa vai se realizando como ser, vai sendo lembrada, razão porque “o vento falando em mim”. A figura que então se apresenta é como se fora a própria mãe, a quem muito se ama e a quem se teme perder. E ela, na sua missão de viver e dar a vida, vai-se transformando e se transubstanciando nos filhos, coisa que está muito bem colocada no último verso, que fecha magnificamente o poema: “por desfolhar-me é que não tenho fim”.

Nesse momento, damo-nos conta do sentido transcendental que os versos nos oferecem, tirando-nos do meramente contingente para transportar-nos a esferas espiritualizadas da vida humana. E isso foi possível graças ao poder sugestivo das palavras que se espraiaram em significados superiores àqueles que elas ordinariamente oferecem no dicionário.

Como se observa, a poesia consegue dizer com poucas palavras aquilo que a linguagem científica desenvolveria em páginas e páginas, justamente por faltar-lhe a dimensão artística e o poder sugestivo.

Outro aspecto a ser ressaltado é o referente à ambiguidade (sentido conotativo) do texto poético, uma vez que “a estratégia poética tem por único fim a mudança do sentido”. “O poeta atua sobre a mensagem para modificar a língua. Diante desta ambiguidade, o leitor como que é convidado a penetrar no texto, a dissecar-lhe os pontos mais extremos, levantando, ao fim deste trabalho, o conteúdo maior que ele oferece.

PROF. DR. AUDEMARO TARANTO GOULART
PROF. DR. OSCAR VIEIRA DA SILVA

Referência:
GOULART,  Audemaro Taranto; SILVA,  Oscar Vieira. Introdução ao estudo da literatura. Editora Lê: Belo Horizonte, 1994.  Disponível em: <www.chacomletras.com.br>. Acesso em: dia mês ano (ex.: 7 out. 2009).