“Higesipo Brito” por Higesipo Brito (Cap. IX)
Higesipo Brito acompanhado ao violão pelo filho
Eugênio Brito, então com 11 anos de idade – 1971
AS MEMÓRIAS DE UM MENINO, DE UM RAPAZ, DE UM HOMEM
HIGESIPO BRITO
É preciso retroceder dois anos no relato dessas memórias, para registrar um fato importante na vida de Higesipo acontecido em 1954, quando, estimulado pelo idealismo que sempre orientou seus passos pela vida, decidiu candidatar-se a vereador pela UDN – União Democrática Nacional. Porém, não alcançando o número de votos suficientes, somente dois anos e três meses depois, em 29 de março de 1957, foi empossado vereador na Câmara Municipal da cidade como suplente de Sebastião Ribeiro da Silva, que renunciara ao cargo.
A decisão de ingressar na política adveio de sua preocupação com os filhos, desejoso que estava de lhes possibilitar futuro digno por meio de uma educação que avançasse além do curso primário no Grupo Escolar Honorina Giannetti – único recurso educacional então disponível. Ciente de estar impedido de lhes propiciar tal conquista, por não poder arcar com os altos custos dos colégios internos comuns à época, motivado por tal impossibilidade, Higesipo decidiu lutar pela criação de um ginásio na cidade. Por isso, em 1958, candidatou-se para um segundo mandato de vereador, no que foi bem-sucedido, tendo sido honrado, inclusive, com o cargo de Vice-Presidente da Câmara Municipal.
João Alves de Brito, Maria sua esposa
e parte de sua prole
Ao comunicar seu projeto legislativo ao cunhado e coletor João Alves de Brito, ao engenheiro Hélio João Arduini – os dois pais de nove filhos – e ao funcionário da prefeitura Jovino Paulino (ver última foto do capítulo VIII) – então pai de quatro filhos – e obter uma entusiástica aprovação de seu projeto, Higesipo os convidou a integrar uma comissão para representar a cidade nas audiências com os órgãos públicos federais.
A esposa Profa Maria Helena Carvalho Arduini,
a mãe Ana Arduini e a prole de Hélio João Arduini
Viaduto das Almas – 1967
Assim, o fato de pertencer ao quadro dos legisladores municipais, inclusive, exercendo a vida pública por um período de nove anos (de 1957 a 1966), ou seja, por três períodos legislativos consecutivos, proporcionou-lhe condições de idealizar o projeto, formar esta comissão e ir ao Rio de Janeiro, então Capital Federal para, no Ministério da Educação, pleitear ao Exmo. Sr. Ministro da Educação – Dr. Clóvis Salgado – que tinha como chefe de gabinete o Dr. Celso Brant, que fosse instalado em Rio Acima, com a possível urgência, um ginásio onde os seus filhos e de todas famílias rioacimenses pudessem adquirir esta necessária instrução educacional e formação cultural. O atendimento foi imediato.
Desta forma, em apenas vinte dias, estava criado o estabelecimento de ensino ginasial, pioneiro de Rio Acima, que recebeu a razão social “Ginásio D. José Jardim”, que em seguida foi alterada para “Ginásio Américo Giannetti”, em homenagem ao industrial que tanto contribuíra para o desenvolvimento sociocultural da população local, ao fundar, construir e doar à cidade a sede do seu primeiro estabelecimento de ensino: “Grupo Escolar Honorina Giannetti”, fundado em 14 de março de 1947, pela Lei Estadual 2.441, que passou a sediar o ginásio no turno da noite, porque não havia, na cidade, outro espaço físico apropriado e disponível nem recursos para a construção de uma nova escola. Outro registro importante é que, trinta anos depois, o Ginásio Américo Giannetti teve a sua razão social alterada para “Escola Municipal Teresinha Cosenza”, quando de sua mudança para o regime administrativo municipal e também de prédio, ocorrida em um dos mandatos do então prefeito e farmacêutico Marconi Cosenza que, desta forma, rendeu uma homenagem à sua falecida esposa.
Pe. Osvaldo Carlos Pereira
Merece registro nessas memórias, com honrosa deferência, os nomes do primeiro diretor do “Ginásio Américo Giannetti” – Padre Osvaldo Carlos Pereira – e dos primeiros professores que trabalharam sob sua supervisão pedagógica: Sebastião Clemente da Silva (Matemática e Latim), Jurandir Duarte (Português e Francês), Sinval Duarte (Inglês), Hélio João Arduini (Geografia e Desenho Geométrico), Lenita Martins Lana (Desenho Artístico e Trabalhos Manuais), Dirceu Andrade (História), e este relator Higesipo Brito (Música), sem esquecer o disciplinário Jair Marçal – expedicionário da Segunda Guerra Mundial – e a servente Dona Adelaide.
Importante registrar que, ainda em 1959, o Sr. Francisco Caldas Pacheco substituiu Padre Osvaldo Carlos Pereira na diretoria do ginásio que, sob essa nova supervisão pedagógica, passou a contar com a colaboração dos professores residentes em Rio Acima: Milton Abdo Santiago (Inglês) e Elair Vanderley Dias (Ciências), e também dos professores da cidade vizinha Nova Lima: Armando Zanini (Matemática), Aldo Zanini (Matemática), Maria Therezinha Saad Bedran (Português) e Professor Airton (Inglês).
Formanda Stela Íris de Brito
Dezembro de 1963
Assim, em fevereiro de 1959, Higesipo teve a alegria de matricular no ginásio os seus filhos Britinho (que se formara no grupo escolar em 1955), Stela (que se formara em 1956), e Humberto (que se formara em 1957). Leila, que havia concluído o grupo escolar há dois meses – dezembro de 1958 – não pôde ser matriculada de imediato, porque naquele ano seria submetida a um longo tratamento médico composto de várias intervenções cirúrgicas ortopédicas corretivas e de fisioterapia, iniciando seus estudos ginasiais em 1960.
Higesipo dá prosseguimento ao magistério da Música até 1961, quando é substituído pelo músico-violinista Juarez Gonçalves dos Santos, ano em que, agraciada por tão importante realização de cunho educacional, a população de Rio Acima mostra seu reconhecimento nas urnas, reelegendo-o vereador, quando então, é honrado com a Presidência da Câmara Municipal. Em fevereiro 1962, matricula no ginásio o seu filho Francisquinho, logo após a sua diplomação no Grupo Escolar Honorina Giannetti.
Formando Francisco de Assis Augusto de Brito
Orador da Turma – Dezembro de 1961
Em 1962, Higesipo tem a satisfação de ver formado no ginásio o seu filho Humberto, e em 1963, as filhas Stela e Leila, o Francisquinho em 1966, Riva em 1967, Ângela em 1968, Guida em 1971, Clarinha em 1973 e Geninho em 1974.
Formanda Leila Maria de Brito
Dezembro de 1963
Nesse mesmo ano, de posse da faculdade proporcionada pela condição de homem público, Higesipo idealiza, elabora o projeto e trabalha intensamente pela implementação do asfaltamento da estrada que liga Rio Acima a Nova Lima, que acompanhou de perto até a segunda operação de terraplanagem, em 1966, quando renunciou ao mandato de vereador.
Além das importantes realizações citadas que, por suas naturezas, grandes benefícios trouxeram ao município e sua comunidade, na parte sociocultural este relator presenteou a cidade com as cívicas composições musicais: Hino ao Ginásio Américo Giannetti, Hino ao Grupo Escolar Honorina Giannetti, Hino ao Grupo Escolar Pe. Osvaldo Carlos Pereira, Hino à Escola Estadual Santo Antônio e, com destaque, Hino à Cidade de Rio Acima – vencedor do concurso idealizado e implementado pelo Prefeito Milton Gonçalves dos Santos em 1971, e devidamente oficializado pela Lei nº 512, de 27 de abril de 1972:
Partitura do hino para Saxofone-Tenor
Arranjo de Higesipo Brito
HINO À CIDADE DE RIO ACIMA
Letra e Música de Higesipo Augusto de Brito
HOMENAGEM DO AUTOR
Entoando teu hino, vivo a cantar,
E cantando eu vivo a contemplar
Teu céu, teu sol, teus rios,
Tuas noites e o teu luar.
Princesinha das serras dos minerais
Das cascatas, sonatas ouço a sonhar,
Oh! Linda Natureza, eu te quero demais,
Em ti, tudo um amor, num esplendor de glórias imortais.
Legendário encerra o teu Brasão,
De grandezas sublimes do teu valor
Venero o teu pendão
RIO ACIMA, berço de amor.
És um rio e um rio tens a rolar
Em teu seio, rasgando-o, buscando o mar,
Trazendo altiva imagem, teu nome consagrar,
Pujança em que terei pra sempre a ti, de ti sempre serei.
Demandando uma galera
Rio Acima, sem temor,
Navegando noutras eras
Bandeirantes de valor
Defrontaram a ti, soberana flor,
Coração de Minas Gerais,
Renasceste à luz e ao amor conduz
Esquecer-te-ei jamais.
SALVE! BRISA QUE FAZ TREMULAR TEU PENDÃO.
SALVE! M GRITO DE PAZ E AMOR NA CANÇÃO.
Salve! Salve! Natureza fulgente, em luz,
Que clareza, na grandeza da integração.
Esplendor tens, de um céu, tudo em ti reluz,
És Brasil, Brasil do coração
Desta gente, que ardente amor, enfim,
Nutre a ti, para sempre cantar assim,
Salve! Salve! RIO ACIMA formosa flor,
Da esperança e do amor.
Salve! Salve! RIO ACIMA, formosa flor
Da esperança e do amor.
HIGESIPO BRITO
Rio Acima, SET 1995.
A narrativa do autor prossegue em próxima postagem.
Referência:
BRITO, Higesipo Augusto de. As memórias de um menino, de um rapaz, de um homem [Rio Acima, set. 1995.17 f. Mimeografado]. Chá.com Letras, ago./set./out., 2013. Disponível em: <www.chacomletras.com.br>.
Revisão, pesquisa de imagens e edição:
Leila Brito
Ilustração:
Foto 1 – Higesipo Brito acompanhado ao violão por seu filho Eugênio Brito – 1971. De Elton e Helder.
Foto 2 – João Alves de Brito e Família – Quintal de sua casa em Rio Acima – 1950. Autor desconhecido. Foto cedida a esta memorialista pelo próprio João Alves de Brito, em 1995, para registro de memória.
Foto 3 – Família de Hélio João Arduini – Autor desconhecido – Do acervo de Valquíria Arduini.
Foto 4 – Stela Íris de Brito – Formanda do Ginásio Américo Giannetti – Dez. 1963. De José Garcia.
Foto 5 – Francisco de Assis Augusto de Brito – Formando do Grupo Escolar Honorina Giannetti – Dez. 1961. De José Garcia.
Foto 6 – Leila Maria de Brito – Formanda do Ginásio Américo Giannetti – Dez. 1963. De José Garcia.
Foto 7 – Cópia de partitura de arranjo para saxofone-tenor do Hino à Cidade de Rio Acima, de autoria de Higesipo Augusto de Brito – Acervo de Leila Brito.
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