A morte é o “dexistir” do eu
A MORTE É O “DEXISTIR” DO EU
ERIK HAAGENSEN GONTIJO
Quando o corpo se desliga e tem início sua decomposição, chega ao fim o processo que chamamos de mente e que decorre do funcionamento do cérebro. Morto o tecido cerebral, não há mais memória; ou seja, o Eu se apaga. Os sentidos se encerram e já não há mais consciência a que pudessem informar acerca do mundo ao redor.
E a alma? A alma é coisa distinta da mente? Se for, o destino dela será tão interessante a nós como o destino de nossa carne: se vai virar grama, comida de verme ou éter pairando no nada, é algo completamente indiferente, pois o que importa é a consciência, a memória, o Eu.
Nenhum Eu sobrevive ao fim do cérebro, de modo que morrer nada mais é que abandonar completamente a sociedade e imergir na mais plena harmonia com a natureza.
Contudo, e em um sentido bem determinado e completamente distinto do que normalmente se entende a respeito, o espírito pode continuar vivo, se cultivado pelos indivíduos ao longo das gerações e enquanto durar essa cultura.
O espírito não é uma coisa. O espírito é memória e linguagem. Portanto, não é apenas o resultado da atividade cerebral, mas ainda, e essencialmente, é um produto da sociedade.
O Eu que vira puro espírito passa a existir enquanto memória alheia, sem a anterior identidade de si: agora o espírito não mais é subjetivo e a memória se tornou história. Que outros cuidem dela com leveza e graça.
Referência: HAAGENSEN, Erik Gontijo. A morte é o “dexistir” do eu. Chá.com Letras. 18 jul. 2016. Disponível em: http://www.chacomletras.com.br/2016/07/a-morte-e-o-dexistir-do-eu/
Ilustração: Amy Fichter. Rummery Cemetery. Chippewa Falls, Wisconsin. 1 june 2013. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/xenializ/11041310326
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