Vídeo da Semana
Hannah Arendt (1906 – 1975)
Hannah Arendt, ou Johannah na certidão de nascimento, nasce no dia 14 de outubro de 1906 em casa, na cidade de Linden (Hanover), Alemanha. Desde pequena demostra ter uma capacidade intelectual extraordinária. Martha Arendt, sua mãe, deixa registrado no diário Nosso Bebê a evolução do seu desenvolvimento, e nele descreve Hannah como uma criança precoce em tudo. Aos dois anos já fala, e quando entra para a escola já sabe ler e escrever. Martha trabalha num jardim de infância onde novas teses sobre Educação são postas em prática, após ter estudado três anos na França onde aprendeu línguas e música.
Max Arendt, avô de Hannah, é o responsável por apresentar a religião judaica à neta, mas não de forma tradicional, no sentido frequentar a Sinagoga, e sim, de integrar seu modo de vida. Uma relação que dura até o ano de 1913, pois tanto ele como Paul, pai de Hannah, morrem nessa época. Em ambos falecimentos, ela passa a questionar muito mais o sentido da morte do que propriamente a manifestar a dor da perda dos entes queridos, demonstrando para sua mãe que é forte. Martha se preocupa, pois com tal comportamento, Hannah parece não sofrer com a morte do pai. A partir de então, a filha tenta tomar conta da mãe ao mesmo tempo em lhe faz as perguntas que, mais tarde, a levariam para a Filosofia.
A relação de Hannah com sua mãe é tão forte que, mesmo aos quarenta anos, ela ainda busca seu conforto e auxílio nos momentos de dúvida. Entre 1913 e 1916, as idas e vindas entre as cidades de Könisberg e Berlin são frequentes em razão da guerra. Martha frequenta o círculo de seguidores de Rosa Luxemburgo, mulher que terá o apreço de Hannah, tanto por seus ideais como pela sua vida e pelo que busca alcançar (em Homens em Tempos Sombrios, Arendt se entrega a reflexões sobre a força revolucionária de Rosa Luxembrugo). Desta forma, Martha leva Hannah para o círculo dos revolucionários, transformando seu próprio apartamento em local de encontro, e a filha leva para sua vida as questões discutidas nessas reuniões. É um tempo em que palavras como revolução, reforma, democracia, socialismo ganham força na esfera política. Em 1919, após o assassinato de Rosa Luxemburgo, a situação muda, tanto no panorama político quanto na vida de Hannah.
Assim, em se tratando da vida de Hannah Arendt, há que se chamar a atenção para os aspectos relevantes herdados da família como a influência judaica do avô e a natureza política e, até certo ponto, revolucionária de sua mãe. E do pai, a motivação para a leitura, permitindo que ela lesse os clássicos de sua biblioteca. Hannah dirá na entrevista a Günter Gaus que, por toda sua vida, terá essa dívida com o pai (QUEVEDO, 2009).
Formada pelas universidades de Koniberg, Malburg, Freiburg e Heidelberg, Hannah Arendt é influenciada por Husserl, Heidegger e Yaspers. Em consequência das perseguições nazis, em 1941, parte para os Estados Unidos da América, onde leciona nas principais universidades do país (Columbia, Califórnia, Cornell, Princeton e Wesleyan) e escreve grande parte de sua obra.
Pautando sua filosofia numa crítica à sociedade de massas e à sua tendência para atomizar os indivíduos, a filósofa preconiza o regresso a uma concepção política separada da esfera econômica, tendo como modelo de inspiração a pólis grega. Assim, em sua densa e profunda obra filosófica, Hannah Arendt questiona o sentido da política, buscando responder às perguntas:
Após Dachau, Auschwitz, os Gulags siberianos, em síntese, depois das experiências totalitárias nazista e stalinista, qual o significado da política? Partindo de uma constatação arendtiana de que ação política é sinônimo de liberdade, será que podemos admitir como “política” programas de desumanização, de eugenia, isto é, de objetivação do homem? Será que a “política totalitária” (ARENDT, 1990, p.514), responsável pela transformação da própria natureza humana, por tornar possível o mal radical, absoluto e imperdoável, não ocultaria, em realidade, ações não-políticas, até mesmo antipolíticas? Não há contradição no próprio termo “política totalitária”? Por outro lado, será que a “politização” plena realizada por tais regimes totalitários e a concomitante e paradoxal extinção do espaço de liberdade necessariamente nos conduz a dar razão aos liberais, a entender como incompatíveis liberdade e política, só surgindo a primeira quando a última cessa de existir? Em outros termos, será que a política se restringe ao estatal e a liberdade possui somente uma dimensão negativa, uma liberdade a-política de “ter”, de “crer”, enfim, uma “liberdade da política” (ARENDT, 2001, p.195)? Tais indagações nos levam, com Arendt, a formular a seguinte questão: “Tem a Política ainda algum sentido?” (ARENDT, 2006, p.38). O que de fato é a política? (TORRES, 2007, p. 235-236).
Antecipando um ensaio focado em Hannah Arendt, e objetivando propiciar aos leitores do Chá.com Letras o acesso a uma das mais importantes personalidades da Filosofia Política contemporânea, disponibilizo o vídeo da Parte I da entrevista concedida pela filósofa, em 1964, ao jornalista alemão Günter Gaus. Na sequência, serão postadas as partes II e III.
LEILA BRITO
Belo Horizonte, 19 AGO 2010.
Ilustração:
Hannah Arendt num café em Paris, em 1935 – foto de autor desconhecido desta escritora.
Referências:
TORRES, Ana Paula Repolês. O sentido da política em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, São Paulo, n. 30, v. 2, p. 235-246, 2007.
QUEVEDO, Cristian Abreu de. Obras de Hannah Arendt. Compreender Hannah Arendt, 18 dez. 2009. Disponível em: <http://compreender-arendt.blogspot.com/2009_12_01_archive.html>. Acesso em: 19 ago. 2010.
Apesar da essência pública da política, Arendt afirma que a linha divisória entre a esfera privada e a esfera pública desaparece ocasionalmente em Platão e Aristóteles. Para Platão, as experiências da vida privada podem ser transferidas para a vida na pólis. E Aristóteles, seguindo Platão, defendeu que a origem histórica da polis estava ligada à superação das necessidades do oikos e somente a finalidade última da vida boa na pólis (a felicidade) transcende a insuficiência biológica da casa e da família. (É Lindo!)
― Contemplação é o último elemento conceptual a antropologia filosófica de Hannah Arendt.
Consiste na relação do homem com o mundo físico na tentativa de apreender leis eternas semelhantes às leis da Matemática e da Física. Este conceito é tematizado em The life of the spirit. Compreende reflexão filosófica e religiosa.
— Na concepção de Hannah Arendt, duas causas podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores. Ambas fazem com que as crianças e adolescentes fiquem sujeitos à tirania de uma maioria qualquer (grupo social, tribos, gangs) e de um líder carismático ou populista. Portanto, o ato educativo é ao mesmo tempo político e ético, porque visa transformar alunos “não-pensantes”, “incivilizados”, “não-humanizados”, em seres humanos que podem exercitar o pensamento crítico sobre a realidade e seus atos.
Tais indagações nos levam, com Arendt, a formular a seguinte questão: “Tem a Política ainda algum sentido?” (ARENDT, 2006, p.38). O que de fato é a política? (TORRES, 2007, p. 235-236).
Ah! Querida Mestra como este é um espaço altamente literário tento me conter, e digo-lhe:― aqueles que conseguiram chegar a exercitar o pensamento crítico com mestria sabe, e passa a transmiti-lo da melhor maneira a quem não sabe.
Este continua sendo o mundo do aprendizado, do aperfeiçoamento.
Abraços Fraternos,
Marilda Oliveira