Vídeo da Semana
O escritor português José Saramago dispensa apresentação da mesma forma que dispensa elogios a sua valiosa obra que reúne o que de mais rico e singular existe na expressão literária da Língua Portuguesa.
A morte de Saramago, ocorrida nesta data, desperta nos amantes da Literatura um sentimento de profunda tristeza manifestada na mais justa admiração e no mais profundo respeito, tanto por sua refinada inteligência criativa como por sua aguda lucidez e seu imbatível senso crítico, que o conduziu à produção de uma obra literária acima de tudo denunciadora da podridão vigente entre os homens na forma de poderes destrutivos da lucidez humana, objetivando a alienação do homem e sua consequente dominação.
Sua aguçada visão crítica e sua personalidade desafiadora provocou diversas polêmicas. Assim, suas opiniões sobre religião e sobre a luta internacional contra o terrorismo resultaram em acusações de diversos quadrantes. Crítico feroz da Igreja Católica Apostólica Romana, classificou a Bíblia comoum manual de maus costumes, provocando reações de protestos do Vaticano.
A propósito, citando Laerte Braga em sua crônica “O bloco do pau de arara e do choque elétrico”: Perguntaram a José Saramago por qual motivo continuava sendo comunista diante dos “crimes” de Stalin. Saramago respondeu de forma simples: “Por convicção ou alguém deixa de ser católico por conta dos crimes da Inquisição?”.
Quanto à posição de Israel no conflito contra os palestinos, caracterizado pela crueldade de um lento genocídio, numa visita a São Paulo, a 13 de outubro de 2003, em entrevista ao jornal O Globo, Saramago afirmou que os judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto… Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós. A Anti-Defamation League (Liga Anti-Difamação – ADL), um grupo judaico de defesa dos direitos civis, caracterizou estes comentários como sendo anti-semitas.
Em defesa de Saramago, diversos autores afirmam que ele não se insurgiu contra os judeus, mas contra a política de Israel, como, por exemplo, num artigo publicado a 3 de Maio de 2002 no jornal Público, onde, comparando o atual conflito com a cena bíblica de David e Golias, o escritor diz que David, representando Israel, “se tornou num novo Golias“, e que aquele “lírico David que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a “poética” mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinianos para depois negociar com o que deles restar“.
Lendo este discurso apaixonado em defesa dos mais fracos, o que podemos concluir, neste momento em que Saramago deixa este mundo-cão, é que a Humanidade perde hoje um de seus mais dignos e corajosos defensores.
No vídeo ao lado, apresentamos a reportagem de uma TV portuguesa sobre a morte do escritor, com flashs de uma entrevista concedida ao programa Última Hora, onde ele relata momentos importantes de sua vida e fala sobre sua obra.
LEILA BRITO
Belo Horizonte, 18 jun 2010
Ilustração:
Saramago clicado por fotógrafo desconhecido desta escritora.
Referência:
WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago>. Acesso em: 18 jun. 2010.
De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos
José Saramago
Que texto atualíssimo, salve Saramago, eterno.