Perce Polegatto em Autorretrato Literário
O ESCRITOR QUE NÃO GOSTAVA DE CONTAR HISTÓRIAS
PERCE POLEGATTO
O célebre comediante Groucho Marx declarou que havia desistido de tentar entender o que faz as pessoas acharem algo engraçado ou não. Da mesma forma, desisti de tentar entender por que a literatura me atrai de maneira tão intensa. As respostas das pessoas práticas para esse tipo de pergunta não são convincentes. Se perguntarmos a alguém por que gosta de chocolate ou de sexo, dificilmente ouviremos uma resposta esclarecedora – mas não se trata de prazer, ainda que ele participe claramente em muitos momentos.
Toda criança gosta de ouvir histórias e de contar histórias. Mas comigo aconteceu algo. Um desvio definitivo em direção a essa permanência quando, numa manhã de inverno e neblina, com nove ou dez anos de idade – não me lembro ao certo, e não havia ninguém comigo para testemunhar isso – fui à barraca que negociava revistas em quadrinhos, na feira em meu bairro, carregando as moedas que ganhava de meu pai e que eu guardava para essa ocasião mágica. Voltava com meus novos livros em mãos, como fazia toda semana, quando percebi que caminhava sem pressa dessa vez, entre o movimento conhecido das outras pessoas ao redor, limitadas pela neblina próxima, pela manhã de inverno. Pensei no que carregava comigo, alguns exemplares usados, já descartados por outros leitores, mas sempre com alguma nova aventura por conhecer, e tive uma impressão inesperada e muito forte: a de que não se tratava mais de ouvir, ler ou recontar histórias. Nesse dia impreciso, um desses momentos que fazem valer todas as situações confusas de nossa infância, compreendi que todos iriam morrer.
Hoje disponho de palavras para escrever isto. Mas nunca alcançando verdadeiramente as imagens, as impressões interiores e essenciais de tal memória. As ideias de quase todos os textos que desenvolvi posteriormente têm a marca dessas transformações. Em outra fase, descobri que estava em busca de algo que não conhecia, mas que tentava incessantemente traduzir. Descobri que mais me interessava essa situação de encantamento do que propriamente a concretização de projetos definidos. E que eu não gostava de contar histórias.
OBRAS PUBLICADAS
A metalinguagem, a busca da identidade humana e o questionamento existencial são algumas das principais marcas dos livros de Perce Polegatto. Listando-os em ordem inversa de criação e edição:
A Seta de Verena – 2ª ed. – também foi publicado como edição independente. Trata-se de um romance que retrata o cotidiano real e fictício de um mesmo personagem em meio a uma crise de valores. A desastrada rotina de um jovem escritor em determinada fase da vida, buscando, como todos, um sentido para sua existência e motivos para realizar-se. Mas algo radical e inesperado se engendra gradualmente até aparecer Verena, que coloca em xeque todas as suas obstinadas pretensões. Uma história sobre escritores e artistas, sobre a juventude e o desejo, sobre a efervescência das transformações individuais, sobre a aventura de existir em um mundo sempre em transição.
Disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/a-seta-de-verena-guia-de-leitura/
A Conspiração dos Felizes foi publicado como edição independente.
Disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/2010/10/20/chegadas-partidas/
Os Últimos Dias de Agosto é um romance publicado pela All Print Editora de São Paulo. Disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/2010/11/22/velhas-novidades/
Quando escrevi os contos que passaram a compor Lisettte Maris em seu Endereço de Inverno, estava experimentando inúmeros estilos e recursos literários, sempre em função da originalidade.
Disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/2010/09/07/mirna-e-a-viking-de-trancas/
Meu primeiro livro, A Canção de Pedra, traz alguns trabalhos fortememte influenciados pelo romantismo tardio de escritores alemães e franceses. Um ciclo de contos ingênuos, fantasiosos e desnecessariamente sentimentais. Disponível em: http://www.percepolegatto.com.br/2013/02/09/diversos-caminhos-do-asfalto/
ATUAÇÕES NO CINEMA
Não bastasse o talento para as Letras, Perce Polegatto surpreende na dramaturgia em dois curtas metragem. O primeiro, disponibilizado no espaço de vídeo deste site. Confira.
1 – O Menino Mau (2009), quando contracena com o ator João Pedro Grande – Direção de Ricardo Ninin e Roteiro de Fernando Reis, adaptado do conto homônimo de Hans Christian Andersen.
Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=8DKYEUv-FVQ; e
2- A Morte Vai Para O Inferno – Faroeste Sobrenatural – Direção de Júnior Titanium. Com Isabela Nascimento, Bruna Zeotti, Thiago Belém, Gilmar Hamilton, Rodrigo Rocha, Ricardo Gripa, Perce Polegatto e Sebastian Morillo. Produzido por Barão de Mauá – Centro Universitário de Ribeirão Preto-SP.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rKJ3cVsbHk0
Referência:
POLEGATTO, Perce. O escritor que não gostava de contar histórias. Chá.com Letras. 26 mar 2015. Disponível em: http://www.chacomletras.com.br/?p=4370
Ilustração:
Perce Pollegato – Foto de autor desconhecido.
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