Uma prosa do João
JOÃO DE ABREU BORGES
Voar não é difícil…
Difícil é acreditar que o espaço ficará lá embaixo, garantido pelo tempo, com sua relatividade, que nos manterá seguros em nossas ousadias, mesmo quando a queda é inevitável…
Não sei por que agora me veio à cabeça um relâmpago jeanpaulsartriano.
A verdade é que, no bairro do Alto da Boa Vista, aqui no Rio de Janeiro, eu passei de ônibus em frente do antigo sanatório onde estive internado há 36 anos, e havia um muro erguido durante toda a extensão do terreno… O motorista do ônibus não sabia que estava me conduzindo por uma viagem que estava durando tanto tempo.
Eu não sei o que acontece agora do outro lado do muro, já que a única notícia que tive foi que uma família rica comprou ali parte do meu passado e de tantos outros cidadãos internados à época.
Mas esta família jamais comprará a memória afetiva de todos que estiveram do outro lado daquele muro, quando passava ali o bonde… o ar era puro… éramos jovens idealistas… os jardins gritavam em silêncio para não incomodar o murmúrio do riacho que os atravessava.
Não desci do ônibus nem procurei pular o muro. Deixei tudo para trás, a condução passou e largou tudo… O tempo não, o tempo sustenta a minha desgraça e glória de 1974, quando amigos morreram, enlouqueceram, mas também beberam da vida, pequena sim, mas talvez melhor, que alcançar o século XXI.
Longevidade é coisa às vezes de idealistas tão radicais que envelhecem, como eu, acreditando que ainda estão renovando a vida.
Dedicado a Jean Paul Sartre, John Lennon, Geraldo Vandré, Alex Polari Alverga e aos anônimos heróis que se envolveram na hemorragia ideológica de quem acreditou que Reforma Agrária, Imaginação no Poder e Humanização da Ciência seriam (e são) o verdadeiro caminho para a Eternidade.
Ilustração:
Foto de autor desconhecido desta escritora.
Referência:
BORGES, João de Abreu. O Muro – II. Ano Um, a. X, n. 118, jun. 2010.
De:JOÃO DE ABREU BORGES
A nação brasileira, o país onde vivemos, a cultura que estamos ainda construindo há cinco séculos, está literalmente nas nossas próprias mãos. Precisamos todos sair de dentro de nós e darmos exemplo às outras nações que as diferenças, sejam de que ordem for, são complementares e confirmam seus opostos, já que em nosso sangue pátrio correm glóbulos italianos, alemães, portugueses, africanos, indígenas etc.
E a maior representação prática de que tanta diversidade pode obter êxito e alcançar sua plenitude é através da prática da escrita, do exercício literário e da comunhão coletiva de bens espirituais compartilhados.
João de Abreu Borges extrai da experiência artística e de vida, o material necessário para mostrar sua filosofia de vida e sua ideologia social em seus versos ritmados.
Grata Mestra
Marilda Oliveira
Marilda,
Obrigada pela simpática e constante presença no Chá.com Letras, e sempre com comentários enriquecedores do conteúdo dos post’s.
Abraço amigo,
Leila