“Higesipo Brito” por Higesipo Brito (Cap. VII)
Higesipo (sax) e a Banda de Jazz do Rioacimense Esporte
Clube. Sentados: Humberto, Leila, Stela e Britinho
Rio Acima – Carnaval de 1952
AS MEMÓRIAS DE UM MENINO, DE UM RAPAZ, DE UM HOMEM
HIGESIPO BRITO
Carnaval no Esporte Clube SAMSA
Ano de 1940
Na Estação um grande número de pessoas, para sua surpresa, aguardava a sua chegada. Sentindo-se, naquele momento, possuído da grandeza de um pequeno príncipe, Higesipo desembarcou nos braços e abraços daquela gente hospitaleira. Dali, com a mala e cuia, conforme expressou em um discurso proferido por ocasião de uma homenagem que lhe foi prestada pelo Poder Legislativo Municipal, sobre a qual falará mais à frente, foi levado para o Salão de Festas do Esporte Clube Samsa, onde participou do ensaio de músicas para o Carnaval que se aproximava, ao lado dos novos companheiros. Foi ótimo!
Casa de Saúde Pedro Giannetti em construção
Ano de 1940
Passado que foi o Carnaval, integrado à Lira Musical Santo Antônio como músico e fichado como enfermeiro da Casa de Saúde Pedro Giannetti, começou a trabalhar no dia de 5 de fevereiro. O hospital encontrava-se em fase de acabamento. Por isso, trabalhou em um ambulatório instalado na Praça Santo Antônio até a data de 20 de junho, dias antes de sua inauguração, ocorrida em 29 de junho de 1940. No período de 2 de fevereiro a 20 de junho, morou no Bonserá, casa de operários solteiros, que possuía dormitórios com uma sala, um quarto e um banheiro, apropriada para rapazes.
Higesipo no centro de Belo Horizonte,
aos 22 anos e 11 meses – 21.11.1940
Foi nesta ocasião que, ouvindo ao longe o som de músicas executadas por um trombone numa festinha de aniversário, Higesipo e Maria – sua mulher – se conheceram. Era a noite linda, enluarada, de 24 de fevereiro de 1940. Estavam em quatro pessoas – ele, seu irmão Amantino e dois amigos – de penetra. Tal condição desencorajava uma aproximação. Mas mesmo assim, resolveram correr o risco e, naquela base do seja o que deus quiser, partiram para a festa. Mas ao contrário do que pensavam, foram surpreendidos com uma calorosa recepção. Assim, plenamente à vontade, passou a um conhecimento sutil do ambiente.
Maria aos 20 anos – 1940
E foi nesse momento que seus olhos cruzaram com os olhares de uma garota simplesmente linda! Decorridos que foram alguns instantes, a senhora dona da casa, num simpatissíssimo gesto, após tê-la apresentado a ele, passou-a gentilmente, aos seus braços, para que com ela dançasse. Dançaram uma única música. Não tinha ela o hábito de dançar. No dia seguinte, através de uma amiga, enviou-lhe uma cartinha propondo um encontro, à noite, na Praça da Matriz. Atendido que foi, passaram a se encontrar nas datas e horários em que estivessem disponíveis. Maria era irmã de José Alves de Brito, então funcionário da Samsa, cujo pai Francisco Alves de Brito Rocha, com quem residia, vivia na vila de Porto Alegre, distrito de Moeda, razão pela qual regressou ao lar, o que motivou uma interrupção do namoro com Higesipo por um período relativamente curto.
Higesipo, Maria, Britinho, Stela, Humberto e Leila
na casa do enfermeiro, residência da família– jul. 1949
Passados dois anos e iniciadas que foram as obras de construção da casa onde moraria o enfermeiro do hospital, apoiado por Maria, e com base no prazo previsto para o término da obra, marcou a data do casamento: 21 de outubro do ano corrente de 1942, data que foi mantida, no sentido de evitar que sua futura esposa tivesse de voltar a viver em sua casa na vila de Porto Alegre. A convivência com a cunhada, com quem sua noiva residia em Rio Acima encontrava-se, de certo modo, abalada. Realizadas que foram as núpcias na paróquia de Santo Antônio, pelo Padre José Luís, Maria passou a residir temporariamente em Itabirito, na casa dos familiares do esposo, onde permaneceu por um mês. A essas alturas, Secundo havia se transferido com a família, de Catas Altas da Noruega para aquela cidade, em maio de 1942, mudança somente possibilitada pelo apoio de um grande amigo, de saudosa memória, cujo nome faz mister aqui registrar – José Onofre Neiva – o Dunga.
Higesipo com Stela no colo, Britinho e o
amigo-fotógrafo Lourival, no quintal de sua
casa às margens o Rio das Velhas – 1947
Inicialmente, o casal passou a residir na Clausura da Casa de Saúde Pedro Giannetti – espaço dedicado a acolher as freiras que lá trabalhariam –, onde permaneceram pelo período de dez meses. Tempo suficientemente gasto com o término das obras de construção da denominada casa do enfermeiro, onde o casal passou a residir, e onde viriam a nascer quatro de seus onze filhos: Ângela de Fátima (em 15 ago 1953), Maria Margarida – nome da avó paterna – (em 22 nov 1955), Clara Inês de Assis (em 28 jun 1958) e Eugênio Augusto (em 3 nov 1959). Antes, porém, seis outros partos ocorreram no hospital, sendo o primeiro gemelar com expulsão complicada, em 22 nov 1943. Razão pela qual, um dos bebês faleceu ao nascer – o José Augusto, tendo seu companheirinho sobrevivido – Higesipo Júnior, apelidado Britinho, em razão de seu pai, por causa do nome de complexa pronúncia, passar a ser tratado por Seu Brito pelos colegas de trabalho. No hospital, sob as mãos de médico formado, nasceram, também, Stela Íris (em 7 jun 1945), Humberto Augusto (em 18 dez 1946), Leila Maria (em 4 jan 1948), Francisco de Assis (em 15 ago 1950) e Maria Rivalina – nome da avó materna – (em 24 nov 1951).
Geraldina abraçada a Britinho, Stela e Humberto
e Catarina carregando Leila, tendo ao lado Maria, na
varanda da casa do enfermeiro Higesipo – jul. 1949
Retrocedendo alguns poucos anos, em 1942, ou seja, dois anos após a instalação da Sociedade Beneficente Tereza Giannetti, Higesipo passou a trabalhar no escritório do hospital, em virtude de ter sido firmado um convênio com a Escola de Enfermagem Carlos Chagas, que mantinha, na sociedade, um corpo de seis enfermeiras estagiárias e uma chefe de enfermagem. Desse grupo de enfermeiras, ocorreu um convívio de grande amizade com Alaíde Maria de Castro, assistente de parto dos primeiros filhos do casal, amizade esta que desafiou tempo e espaço, e com Geraldina e Catarina.
Higesipo com Humberto, Maria com Leila no ventre
e Britinho no chão, no quintal da casa margeado pelo
Rio das Velhas – 1947
Sob a condição de funcionário da Sociedade Beneficente Tereza Giannetti, além dos serviços burocráticos internos, como serviço de pessoal e controle de abastecimento do leite distribuído no lactário para os filhos de zero a cinco anos dos empregados da Samsa e da Cerâmica Santo Antônio, Higesipo fazia o pagamento do auxílio maternidade, auxílio matrimonial e auxílio funeral. Os auxílios enumerados eram concedidos aos empregados de suas empresas pela Sociedade Beneficente, incluindo o denominado Abono de Família – concedido mensalmente aos filhos menores de 14 anos – e cuja responsabilidade de pagamento, confecção de folha etc., também lhe cabiam.
Paralelamente ao trabalho formal, a música permanecia presente em intenso e constante relacionamento com a comunidade, tanto como membro da Lira Musical Santo Anônio como da banda de Jazz do Rioacimense Esporte Clube que, além dos bailes, animava os carnavais que se sucediam ano após ano, mobilizando sua inesgotável dedicação à arte à qual se engajou por puro amor.
Britinho e Stela no Carnaval de 1949
Buick do médico Osvaldo Curry Carneiro
Importante relatar também, que outra atuação de grande importância em sua vida profissional fluía paralelamente. Ocorreu que, depois do nascimento de Stela Íris, precisamente em 17 de outubro de 1945, Higesipo assumiu o cargo de correspondente do Banco de Minas Gerais S/A – Agência de Itabirito (acumulando as obrigações pelas quais respondia na Sociedade Beneficente Tereza Giannetti), nele permanecendo, por quatro anos, até a data de 12 de outubro de 1949, quando pediu demissão.
HIGESIPO BRITO
Rio Acima, SET 1995.
A narrativa do autor prossegue em próxima postagem.
Referência:
BRITO, Higesipo Augusto de. As memórias de um menino, de um rapaz, de um homem [Rio Acima, set. 1995.17 f. Mimeografado]. Chá.com Letras, ago./set./out., 2013. Disponível em: <www.chacomletras.com.br>.
Revisão, pesquisa de imagens e edição:
Leila Brito
Edição fotográfica:
Leopoldo Rezende
Ilustração:
Foto 1 – Higesipo e a banda do Jazz Rioacimense Esporte Clube – 1952 – Autor desconhecido. Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 2 – Carnaval no Esporte Clube SAMSA, final dos Anos 1930 – Autor desconhecido – Retirada do livro de NAHAS JÚNIOR, Antônio. Rio Acima: Fragmentos da história de Minas. Belo Horizonte: Comunicação de Fato, 2010.
Foto 3 – Casa de Saúde Pedro Giannetti em construção – Ano de 1940 – Autor desconhecido – Retirada do livro de NAHAS JÚNIOR, Antônio. Rio Acima: Fragmentos da história de Minas. Belo Horizonte: Comunicação de Fato, 2010.
Foto 4 – Higesipo no centro de Belo Horizonte, em 21.11.1940 – 22 anos e 11 meses – Autor desconhecido. Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 5 – Maria da Conceição Brito aos 20 anos de idade – Autor desconhecido – 1940. Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 6 – Higesipo, Maria, Britinho, Stela, Humberto e Leila – Casa da família – jul. 1949. Foto do amigo Lourival – Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 7 – Higesipo com Stela, Britinho e o amigo fotógrafo Lourival – 1947 – Foto de Maria Brito – Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 8 – Geraldina, Catarina, Britinho, Stela, Humberto, Leila, Maria – jul. 1949 –Foto do amigo Lourival – Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 9 – Higesipo, Humberto, Britinho e Maria com Leila no ventre – 1947. Foto do amigo Lourival – Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Foto 10 – Britinho e Stela no Carnaval de 1947. Autor desconhecido. Acervo da Família Higesipo e Maria Brito.
Capítulo lindo! Muito emocionada!
Clarinha.